6.9.16

Javier Salvago (Divino tesouro)





DIVINO TESORO



La juventud pasó.
Bien está lo que acaba.
No volvería a ser joven
ni aunque me lo pagaran.

¿Echar a andar de nuevo
por la senda trillada
de los sueños ilusos
y las verdades vagas?

¿Empezar otra vez
con las viejas batallas
y sus viejas heridas?
¿Volver a las andadas,

a la noche, al infierno,
al gusto por la mala
vida? ¿Hacer de todo,
lo que es comedia, un drama?

¿Volver a alimentarme
de mitos y falacias,
de modas y movidas,
de palabras gastadas?

¿Llevar sobre los hombros
la fastidiosa carga
de ser interesante,
original?... ¡Qué lata!

¿Confiar, como ayer,
en la vana esperanza
de que todo será
mejor en el mañana?

¿Tener toda la vida
por delante —tan larga—
con lo que uno ha pasado
para ir medio pasándola?

La juventud se fue.
Bien está lo que acaba.
No volveré a ser joven,
a Dios gracias.


Javier Salvago




A juventude passou.
Bem está aquilo que acaba.
Eu não voltaria a ser jovem
mesmo que me pagassem.

Pôr-me a andar de novo
pelo caminho trilhado
dos sonhos ilusórios
e das vagas verdades?

Começar outra vez
com as velhas batalhas
e suas velhas feridas?
Voltar às aventuras,

à noite, ao inferno,
ao gosto da má
vida? Fazer um drama,
de tudo o que é comédia?

Voltar a alimentar-me
de mitos e falácias,
de modas e movidas,
de palavras desgastadas?

Carregar aos ombros
a fastidiosa carga
de ser interessante,
original?... Que lata!

Confiar, como ontem,
na vã esperança
de que tudo será
melhor amanhã?

Ter toda a vida
pela frente - tão longa -
com o que já passamos
para ir aguentando?

A juventude foi-se.
Bem está aquilo que acaba.
Eu é que não volto a ser jovem,
graças a Deus.

(Trad. A.M.)


> Outra versão: Do trapézio (L.P.)

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