26.8.17

Mário de Carvalho (Marta-2)





Pobre mana imerecida, que tantas vezes lhe suscitava a inconfessável raiva de não estar à altura, e ser incapaz de retribuir a atenção, o feitio e a solicitude. 

Desde sempre a vira sobrecarregada de trabalho, a desdobrar-se nos cuidados com os outros, com o pai, com a mãe, com o marido, com o filho, agora com o irmão, num sobrepeso de tarefas, ânsias, desvelos e fadigas.

Pela vida, habituara-se a ver mulheres cansadas, estava farto de mulheres cansadas, até por não compreender a assustadora capacidade de se concentrarem em várias ocupações e de violentarem o corpo até à exaustão.


MÁRIO DE CARVALHO
A Sala Magenta-II
(2008)

.